É o cheiro a cão com sono.
Não sei explicar como, mas os cães têm um cheiro diferente quando estão com sono. Nos humanos o cheiro do suor muda consoante as circunstâncias e as diferentes moléculas correm por nós adentro. Mas, do pouco que sei de fisiologia canina (ou seja, senso comum), os cães só transpiram pela lígua. E as minhas cadelas quando dormem fazem-no de língua fechada. Bem... há vezes em que o sonho ladra mais forte e elas mexem-se como se o R.E.M. não estivesse a marcar as suas posições. Mas normalmente a sua transpiração está guardada entre os dentes.
Então porquê? Porquê a diferença entre cão sonolento e não sonolento?
Não sei. Só sei o que me diz o meu nariz - é diferente. É um cheiro que me traz conforto e ternura. Lembra-me as noites em que me estava a perder num qualquer zapping desinteressante e vinha ela, pata ante pata, sem toda a energia diurna e cambaleando, pedir-me festas de dorso no chão. Até o pêlo de rafeira parecia estar mais macio... E ficava com ela no colo até estar cheia de todo e tédio do mundo e a voltar a deitar no corredor. Ou de, não muito secretamente, a levar comigo para a cama para que adormecer fosse tão mais fácil.
Agora, mudou o pêlo, cor de mel, mudou o suor, mudou a rafeira. O cheiro mantém-se. O conforto mantém-se. A ternura que inspira um pequeno animal rendido ao mimo é constante. E apesar da ternura, é irresistível mexer e acordar, moldar. Pelo menos até ouvir um longo suspiro, misto de reclamação e resignação. O sorriso não se contém.
No comments:
Post a Comment