Thursday, September 8, 2022

Inércia

 Muitas vezes penso em aqui voltar. Depositar letras. Pensamentos avulsos, mais ou menos elaborados. 

Hoje deu-me para espreitar as estatísticas. Mas quem raio é que deu com isto? Tenho "sentimentos misturados" (que há coisas que só se conseguem sentir adequadamente noutra língua) sobre querer ou não que isto seja lido. Assemelha-se quase a um diário, de alguma forma. Bom, amiguinho... se encontraste um blog em 2022... parabéns. Acho que ganhaste o direito a aceder aos desinteressantes pensamentos alheios. Mas... não tens antes um Mia Couto aí à mão?

A leitura. Esse outro calcanhar de Aquiles. Já foi um vício de pleno direito. Agora parece ser necessário quase uma disposição mental diferente para abrir um livro. Não que o prazer tenha diminuído. Ou o interesse. A lista dos livros em vista segue a aumentar. Eu a riscá-los da pilha é que nem por isso. Mas o scroll, o scroll... que podería conseguir se eliminasse as horas de scroll da minha vida? A tecnologia conecta-nos aos outros (será...?), porém fica-se meio perdido nas solicitações. Vazio se não há mensagens. Como se o mundo tivesse deixado de pensar em nós. Passar um dia sem dados ou bateria, meio preocupado porque "alguém pode precisar de algo", e ao chegar a casa... ninguém. Ora, mais valia ler um livrinho, não era?

Por falar nisso... vou desligar esta coisa e ler até adormecer. Adeusinho, blog. Pelo histórico... até daqui a uns meses/anos. 

Sunday, August 16, 2020

Melancolia de domingo à noite

O plano de voltar há demasiado tempo. E não é que era só carregar em meia dúzia de botões, e já está? 

Já ninguém lê blogs. Nem eu, é certo. Nunca os li assim tanto. Fui na febre da sua constituição, em tempos, como se tivesse algo a dizer. A acrescentar. Não, nem por isso. Porém nas poucas vezes que escrevo é sempre como se fosse para alguém. Pode ser que alguém tropece por aqui e se torne no repositório abstracto das palavras. Um ideal a materializar-se num par de olhos estranho a mim. 

Há uma saudade que se instala sempre que regresso a casa. Curiosamente, maior quanto menos rotineiros e programados os dias. Como se voltar a estar sozinha custasse depois de estar acompanhada ou divertida ou com sensação de momentos para contar, mas ninguém a quem o fazer. É uma percepção flutuante. Por vezes é uma bênção saber que posso chegar e passar o resto do dia somente no sofá, a fazer nenhum, e comer uma peça de fruta por jantar. Noutras, a memória recente de outro ser a habitar esta casa, seja em zoom ou, por dias (tão felizes), em carne e osso, deixam antever que talvez uma vida inteira de ausência de um sorriso ao chegar não seja desejável. Não tenho de provar nada a ninguém, não há um juri a pontuar. E às vezes, só às vezes... talvez baixar a guarda não tivesse de ser tão complicado. 

Mas hey! Covid! Pouco ou nada interessa querer ou meio querer. O trabalho voltou a ser fonte de ansiedade importante, aquilo que me trouxe sentido nos últimos tempos não pode acontecer e não há uma previsão de voltar, conhecer gente nova é possível mas não provável. Resta a fé nos macaquinhos, e na redenção da liberdade junto deles. Uma nova vida, com um acalmar em parte revigorante, mas muito menos alegria. E bem sabemos a falta que essa faz. 


Saturday, February 12, 2011

just a perfect day...

"... feed animals in the zoo... and later a movie too, and then home..." - assim se ouvia numa música cantada a muitas vozes já nos refúgios da memória.

Não foi bem assim que aconteceu... porém perfeito.

Um dia em que estar só não implicou solidão, como por vezes acontece. Antes um bem estar em saber que posso, devo passar tempo comigo, sem depender de outros tempos, quereres e desejos. Somente os meus, e andar à deriva, em paz.

Um sol de inverno esplêndido a chamar todos para a rua. No regaço um catálogo do tudo que é possível fazer e apreciar, um "all-you-can-eat" para a alma.

Uma mudança de perspectiva... A cadeia da relação, que imperava como paisagem de serenatas sentidas e lágrimas incontidas, de guitarras silvando os ares contrastando com o som seco e solene das capas, ora envolvendo os recém chegados, ora a rasgarem-se já de saudades, de gratidão, de cumplicidade.
Hoje, uma nova visão. A descoberta do Centro Português de Fotografia. Exposições plenas de deleite e vistas com o tempo que apeteceu gastar. Nem mais... nem menos...
A primeira exposição de fotojornalismo português, retratando muita da nossa realidade e identidade nacional. A emoção de encontrar locais e pessoas nossas nos rostos e horizontes alheios. O poder das imagens, somente. E, a cada nova sala, o fascínio de descobrir um edifício simplesmente soberbo, um local pleno de luz e beleza e espaço, onde outrora se privavam tantos da liberdade que hoje transmite. Planos sobrepostos, escadarias imponentes, salas tão altas que julgar-se-ia nunca respirarmos o mesmo ar duas vezes, por mais tempo que se permaneça. Alvo, robusto, elegantemente austero. A vista um supremo deleite, também pela impressão de ser um segredo aquilo que se descobre, se somos só nós a olhar naquele instante. Casas e vidas à distância de meros metros - a gente real que se move nas ruelas e varandinhas estreitas de grades rectas. O casario estendido, a cascata sanjoanina cantada em madrugadas tantas.

Saio já com fome, e com o sol a retirar-se, pondo fim ao plano "esplanada+livro". Não interessa. Vaguear e encher os olhos de beleza será sempre um plano.

Mais tarde, encontrar quem sempre nos quererá, dar largas ao que se quer ser, planear e fracassar de novo... sem problema. Amanhã...

Em jeito de remate, rostos sorridentes de quem já se tinha saudade, e a estranha sensação de se ser alguém.

Encontrar momentos e imagens e pessoas que nos façam felizes. O supremo sentido? Talvez...

Tuesday, September 14, 2010

B.D. & A.D.

Há dias em que a raiva nos inunda. Em que tudo o que conseguimos fazer é cerrar os dentes, e desejar poder soltá-la em catadupa, seja de que forma for. Uma raiva que nos consome, que nos rouba alegria de viver, que antes tanto imperava. Que nos tolda a visão, junto com as lágrimas de desespero que a acompanham, e nos impede de ver bondade, de ver justeza, de ver amor e carinho que nos é oferecido de bandeja. Impede-nos de amar a quem mais queremos, e já se sabe... um dia será tarde demais, e tudo recomeça. Mais culpa, mais tristeza, menos vontade de seguir em frente. "Just let me lay down and dye..."

Em tempos soube quem era, ou pelo menos reconhecia a figura no espelho. Reconheço a continuidade do trajecto, mas não a foz em que me encontro. Não é nobre, ninguém por cá passeia. Um rio errante, que não sabe para onde vai, e teme ser engolido por um deserto, como o outro. Teme a nada dar vida, nada criar, nada sustentar. Não porque não tem capacidade para isso, mas porque simplesmente se desleixa, porque bloqueia, porque tem medo. Medo. De tudo. De agir e de não agir. Em que ficamos?

Há momentos que nos marcam. Em que a partir deles se cria um referencial. Um antes e um depois, sem que percebamos ao certo o que mudou. Só desejamos com todas as forças que temos poder apagá-los, ou, sabendo-o impossível, perceber exactamente o que mudou para tentar reverter. Um pouco, pelo menos. Voltar a ter uma direcção, sem parecer um catavento em dia de tempestade.

Porque é tão difícil perceber o que queremos? O que é que nos tolda assim? A raiva? O medo? Medo de quê e de quem? De morrer? "A tal sina não escaparás!", dita a voz há tanto perdida. É, mas ainda assim é bom andar por cá mais uns tempos. A quem te esqueceu, arrepia bem o sono prolongado.

Raiva pelo que já não sou, raiva pelo que já não és. Por mentir tão descaradamente quando digo não saber o que são as saudades. Todos os dias tenho saudades desse passado, medo do futuro, raiva do presente.

Who can fix me? Stuck in reverse...

Monday, May 10, 2010

Fitas

"Dêem-lhes as fitas de esperança..." Das fitas que me escorrem da pasta, já recolhidas e guardadas com solenidade, desprendem-se palavras sentidas daqueles que me acompanharam no meu caminho. Dos que me permitiram lá chegar, escavando em mim fundações que não se abalam facilmente... dos que me deram a mão e saltitaram cá e lá, cantarolando ou até acompanhando-me na sesta, e junto de quem cresci e com quem olhei espantada o mundo... daqueles que fui encontrando e que foram sendo as luzes do meu caminho, velas que me alumiam - presentes e calorosas no dia, e tranquilidade no breu do noite... Em todas as fitas vislumbro o orgulho, a confiança, a genuína amizade e todas as palavras me falam à alma, e me rasgam o peito com uma alegria imensa por tudo o que sinto e lembro ao lê-las... Neste momento sinto-me capaz de mudar o mundo, de fazer a diferença, embalada por todos os que me querem bem e que me desejam o melhor. Hoje vou mudar o mundo. Amanhã vou acordar e vai estar tudo como dantes... terei recei de falar com quem me procura, e o estetoscópio afigurar-se-me-á como uma tortura que inflinjo aos outros, tal a insegurança que lhe imprimo. A alma voltará a atormentar-se de dúvidas. Mas hoje? Hoje vou mudar o mundo, com o peito cheio destas fitas que me fazem tão feliz, que me fazem gostar de quem sou, e honrar o dia em que escolhi este caminho.

Sunday, April 25, 2010

Thursday, April 15, 2010

nota do dia

quando o jamie cullum canta, apetece-me trincar-lhe as cordas vocais!

que delícia para os sentidos...

não vejo a hora de o ver ao vivo...