Sunday, August 16, 2020

Melancolia de domingo à noite

O plano de voltar há demasiado tempo. E não é que era só carregar em meia dúzia de botões, e já está? 

Já ninguém lê blogs. Nem eu, é certo. Nunca os li assim tanto. Fui na febre da sua constituição, em tempos, como se tivesse algo a dizer. A acrescentar. Não, nem por isso. Porém nas poucas vezes que escrevo é sempre como se fosse para alguém. Pode ser que alguém tropece por aqui e se torne no repositório abstracto das palavras. Um ideal a materializar-se num par de olhos estranho a mim. 

Há uma saudade que se instala sempre que regresso a casa. Curiosamente, maior quanto menos rotineiros e programados os dias. Como se voltar a estar sozinha custasse depois de estar acompanhada ou divertida ou com sensação de momentos para contar, mas ninguém a quem o fazer. É uma percepção flutuante. Por vezes é uma bênção saber que posso chegar e passar o resto do dia somente no sofá, a fazer nenhum, e comer uma peça de fruta por jantar. Noutras, a memória recente de outro ser a habitar esta casa, seja em zoom ou, por dias (tão felizes), em carne e osso, deixam antever que talvez uma vida inteira de ausência de um sorriso ao chegar não seja desejável. Não tenho de provar nada a ninguém, não há um juri a pontuar. E às vezes, só às vezes... talvez baixar a guarda não tivesse de ser tão complicado. 

Mas hey! Covid! Pouco ou nada interessa querer ou meio querer. O trabalho voltou a ser fonte de ansiedade importante, aquilo que me trouxe sentido nos últimos tempos não pode acontecer e não há uma previsão de voltar, conhecer gente nova é possível mas não provável. Resta a fé nos macaquinhos, e na redenção da liberdade junto deles. Uma nova vida, com um acalmar em parte revigorante, mas muito menos alegria. E bem sabemos a falta que essa faz.